domingo, 16 de julho de 2023

O valioso tempo dos maduros - por Mário de Andrade



(para meu amor)

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui
para a frente do que já vivi até agora.
Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas..
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam
poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram,
cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir
assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar
da idade cronológica, são imaturos.
Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo
de secretário geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana,
muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com
triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua
mortalidade,
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,
O essencial faz a vida valer a pena.
E para mim, basta o essencial!



segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Sadako e a Lenda dos 1000 Tsuru




Quando a bomba de Hiroshima foi lançada, Sadako Sasaki estava prestes a completar dois anos. Apesar de se encontrar apenas a três kms do “ground zero” (ponto de impacto), escapou aparentemente ilesa. Na fuga com a mãe e o irmão, foi encharcada pela chuva radioativa que caiu ao longo do dia.

Até aos doze anos, Sadako parecia uma criança saudável. Estudava e brincava como outras crianças e uma das coisas de que mais gostava era de correr. Um dia, durante uma corrida na escola sentiu-se mal e caiu, ficando estendida no chão. Sadako estava com leucemia. Muitas outras crianças de Hiroshima começaram a apresentar os mesmos sintomas decorrentes da radiação provocada pela bomba. Quase todas morriam e Sadako ficou assustada, pois não queria morrer.

Ouvindo falar na lenda dos pássaros, segundo a qual aquele que dobrar mil aves de origami será curado das suas doenças, Sadako resolveu tentar. Enfraquecida, não teve força para dobrar os mil pássaros, e em 25 de outubro de 1955 faleceu rodeada pela família.

Seus amigos dobraram os tsurus restantes a tempo para seu enterro. Mas eles queriam mais, desejaram pedir por todas as crianças que estavam morrendo em conseqüência da explosão da Bomba Atômica. Então formaram um clube e começaram a pedir dinheiro para um monumento.

Estudantes de mais de três mil escolas no Japão e de nove outros países contribuíram, e em cinco de maio de 1958, o Monumento da Paz das Crianças foi inaugurado no parque da Paz de Hiroshima. Todos os anos no Dia da Paz (06/08) pessoas do mundo inteiro enviam tsurus de papel para o Parque. As crianças desejam espalhar ao mundo a mensagem esculpida à base do monumento de Sadako:

Este é nosso grito

Esta é nossa oração:

Paz no mundo

Dessa forma a sua mensagem de Paz está sendo transmitida ao mundo todo.


Origami para um mundo melhor!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Sobre o Ambiente Virtual de Aprendizagem

O Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) é um espaço aberto e interativo de aprendizagem. Vai além da sala de aula uma vez que permite a utilização de tecnologias digitais, de informação e comunicação indispensáveis para a medição e gerenciamento da EAD.

O AVA é uma realidade de educação que democratiza o conhecimento e a interatividade social, com fóruns, chats, discussões, favorece a educação baseada no construtivismo. Essa filosofia pedagógica fomenta a individualidade e autonomia do aluno, valorizando sua história e sociedade, inserindo a cooperação, a motivação e o desafio pessoal no ambiente multidisciplinar que é a web.

A oferta da aprendizagem através de ambientes virtuais abertos (como os Blogs) são interessantes por serem gratúitos, pela facilidade em utilizar seus recursos (facilidade de criação e utilização) embora algumas vezes os comentários sejam inapropriados pela exposição dos conteúdos indiscrimadamente. Nesse aspecto a mediação por um moderador é determinista para a qualidade do conteúdo discutido.

Já os AVA fechados são aqueles gerenciados por softwares que estabelecem diretrizes de engajamento, de participação mínima e interatividade mediante um plano de ensino pré estabelecido com prazos e metas. Nem sempre é interessante pois seus conteúdos não podem se utilizados abertamente, estando vinculados apenas durante a duração do curso, o que demanda um acesso à web com velocidade e qualidade e, principalmente necessita disciplina por parte do aluno para administração do seu tempo para cumprir as tarefas no prazo estabelecido.

Um ambiente atualmente muito utilizado para a aprendizagem virtual é o Moodle, também conhecido por Learning Management System (LMS) ou sistema de gerenciamento de aprendizagem.

O Moodle foi desenvolvido por Martin Douglamas, informático doutor em pedagogia, e a palavra "Moodle" significa "Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment". É um software livre de apoio à aprendizagem e pode ser instalado em várias plataformas que consigam executar a linguagem php tais como Unix, Linux, Windows. MAC OS. Como base de dados podem ser utilizados MySQL, PostgreSQL, Oracle, Access, Interbase ou ODBC. Seu desenvolvimento é de forma colaborativa por uma comunidade virtual, a qual reúne programadores, designers, administradores, professores e usuários do mundo inteiro e está disponível em diversos idiomas. A plataforma vem sendo utilizada não só como ambiente de suporte à Educação a Distância mas também como apoio a cursos presenciais, formação de grupos de estudo, treinamento de professores.

Outro AVA se software livre é o TelEduc, baseado na metodologia de formação contextualizada desenvolvida por pesquisadores do Núcleo de Informática Aplicada à Educação (Nied) da Unicamp. Ele pode ser copiado da página do projeto e instalado em um servidor Linuz com Apache, PHP e banco de dados MySQL.

Enfim, o que se deseja através do ambiente virtual de aprendizagem é dotar a Educação à Distância de ferramentas e possibilidades diversificadoras para melhor aproveitamento da realidade cibernética em que o aluno atual se encontra.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Valorizando a arte de educar-se (parte II)


(gaivota de papel)

Ainda comentando as infindáveis possibilidades de educar-se, compartilho as minhas impressões sobre a EAD (Educação A Distância).

Hoje é a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) (unidade do Ministério da Educação) responsável pela regulação e supervisão de instituições públicas e privadas de ensino superior e cursos superiores de graduação do tipo bacharelado, licenciatura e tecnológico, na modalidade presencial ou a distância.

É um espaço alternativo, não limitado ao da sala de aula, que deve ser valorizado visto a necessidade de se utilizar inúmeros recursos para contextualizar o indivíduo ao conteúdo proposto pelo plano de ensino e recomendado pelo MEC.

É um cenário onde há outros atores além de professores e alunos. Falo de desenvolvimento de ambientes voltados ao processo de ensino-aprendizagem que se valem de recursos áudio-visuais, gráficos, espaços alternativos de onde a realidade virtual conduz o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, compartilhando e valorizando suas experiências de vida.

Nesse contexto, tutores, desenvolvedores de ferramentas, suporte, são peças fundamentais para a fomento e percepção da auto confiança do aluno em querer aprender mais e mais.




Um excelente exemplo é a Educação a Distância (EAD) da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/FIOCRUZ) que propõe uma iniciativa estratégica de formação de profissionais de saúde integrada a seu processo de trabalho. Segundo o site, "visa colaborar para a construção e consolidação de um SUS cada vez mais produtor de eqüidade social e de qualidade de saúde". Apresenta ambiente diversificado capaz de ressignificar o contexto do profissional de saúde baseado nos resultados estratégicos da pesquisa social na área de saúde pública.

Se você é profissional da saúde e necessita inovar sua formação voltando-se à Saúde Coletiva, aproveite.

"A educação é um bem público de primeira necessidade" Presidente Lula - 2005


A Elegância do Comportamento



Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, esteja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.
É um dom que vai muito além do uso correto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam, nas que escutam mais do que falam. E quando falam, passam longe da fofoca, das pequenas maldades ampliadas no boca a boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao se dirigir a frentistas, nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros.
É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, e, ao receber uma ligação, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está falando e só depois manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante.
É elegante você fazer algo por alguém e este alguém jamais saber disso...
É elegante não mudar seu estilo apenas para se adaptar ao outro.
É muito elegante não falar de dinheiro em bate-papos informais.
É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo.
É elegante a gentileza...
Atitudes gentis, falam mais que mil imagens...
Abrir a porta para alguém... é muito elegante
Dar o lugar para alguém sentar...é muito elegante
Sorrir sempre é muito elegante e faz um bem danado para a alma...
Olhar nos olhos ao conversar é essencialmente elegante.
Pode-se tentar capturar esta delicadeza pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.
A saída é desenvolver a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu, que acha que "com amigo não tem que ter estas frescuras".
Educação enferruja por falta de uso.
E, detalhe: não é frescura!

(por Martha Medeiros)

Valorizando a arte de educar-se

Meus avós diziam: "o maior bem que posso deixar à vocês, meus filhos e netos, é a educação".

O acesso à educação vem mudando e adaptando-se às facilidades que a internet nos proporciona. Interativa e dinâmica, a web torna-se uma aliada aos que necessitam do "q" diferente na sua capacitação.

A utilização de blogs e redes sociais com fins educativos é uma ótima ferramenta de divulgação de técnicas e receitas que deram certo em diferentes partes do mundo.

Na minha formação de origamista, muito aprendi em tutoriais de blogs nos mais diversos sites. Problemas com o idioma? Negativo! A ferramenta de tradução automática do Google (para quem utiliza o ambiente Chrome) minimiza distâncias. Dificuldade em entender os diagramas? Uma pesquisa no Youtube e encontramos origamistas dotados de técnica, paciência e boa-vontade para ensinar as dobras mais chatinhas. Isso sem contar no troca-troca de livros e diagramas nas comunidades do Orkut. E amizades se concretizam: é a arte do encontro, como dizia o poetinha, embora haja tanto desencontro pela vida.

Busque e eduque-se!

"A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida." John Dewey

Terapia e Equilíbrio




Em dias de tensão, de cobranças no trabalho, trânsito caótico, torna-se quase impossível manter o equilíbrio do pensamento para as tomadas de decisão.

Nesses momentos sugiro coisas simples:

um alongamento mesmo que dentro do escritório,
5 minutos de uma música instrumental suave,
a retomada da respiração compassada vitalizando cada célula do corpo
e a prática de uma atividade como terapia e concentração.

Experimente... origami é pura terapia!

Evitando as sacolas plásticas com origami de jornal


A maioria das sacolas plásticas são (ainda) derivadas do petróleo, embora o emprego de material reciclado seja hoje uma realidade do setor.

O maior problema está na biodisponibilidade desse material no ambiente, que pode levar centenas de anos até sua total decomposição. Alternativas vem sendo estudadas como o uso da proteína "zeína" do milho na confecção de sacolas (as chamadas sacolas biodegradáveis) mas ainda encontra-se em fase experimental. Essa sacola leva cerca de 5 semanas para total decomposição.

Uma alternativa eco-eficiente, barata e que resolve o problema do acondicionamento do lixo doméstico é a lixeira de origami de jornal. Siga as instruções abaixo. Experimente essa ideia!





quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A Beleza do Invisível




(para minha linda Mariana)

É breve, é pequena, a distância que separa o avô do neto.
Feito o arado que rasga a terra, a passagem do tempo deixa sulcos na alma e no rosto.
“As viagens sucedem-se e acumulam-se como as gerações;
Entre o neto que foste e o avô que serás, que pai terás sido?”
A única coisa que nós temos de fato é a vida. E com ela podemos fazer tudo, ou nada.
Pais, filhos e netos.
Buscar uma experiência de significação, trilhar a senda do auto-aperfeiçoamento.
A vida é um instante, um sopro.
Quantas gerações já vieram e se foram,
quantas ainda virão e igualmente passarão…
Menos de uma hora de vida. O primeiro beijo.
Há quem sustente que é o amor das mães que mantém o mundo em seu eixo.
Memórias poéticas e afetivas.
Os pequenos gestos e instantes que se vestem de beleza e ternura o tempo.
Nos vagões da existência terrena, por um breve instante passeamos.
O ato de observar é a única chave que abre a porta dos mistérios.
A paisagem de fora, a vemos com os olhos de dentro.
A paisagem é um estado de alma.
Na realidade, o que vemos está em nós.
Não vemos o que vemos, vemos o que somos…
“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”
Ter olhos para a beleza do céu, para a poesia das nuvens.
Cultivar a quietude do espírito
como potência de transformação.
Ter um olhar capaz de discernir a beleza invisível.
A filosofia oriental nos ensina que
a mais bela imagem não tem forma.
Resgatar a beleza, a poesia e a espiritualidade
capazes de suavizar a nostalgia do Absoluto.
Cultivar a magia e o encantamento de se estar no mundo.
Cativar a via do Silêncio dentro de nós.
Esta existência terrena é uma oportunidade de despertarmos
da letargia e do sono.
Esta existência terrena é a infância da Eternidade.
Uma oportunidade para nos aproximarmos da Pura Luz
que habita nossa finitude.
Felizes os que aproveitam com sabedoria a preciosa
aventura que é o existir.
Feliz o olhar capaz de discernir a beleza do invisível...

José Saramago

sábado, 19 de junho de 2010

Amar

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer, amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho,
e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor à procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa, amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.

(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 1 de agosto de 2009

Canção do dia de sempre - Mário Quintana



Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...

quarta-feira, 29 de julho de 2009

O Tempo - Mário Quintana



“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, já passaram-se 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado.


Se me fosse dado, um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.

Desta forma, eu digo:

Não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo, a única falta que terá, será desse tempo que infelizmente não voltará mais.”


Boas dobrinhas... :-)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Sakura




Conta a lenda japonesa que os kusudamas eram usados
nos leitos dos enfermos com a fnalidade de alegrar o
ambiente e trazer bons fluidos pelos aromas exalados
das folhas medicinais que eram colocados em seu
interior propositalmente.

O sakura representa as flores dos pessegueiros,
símbolo no Japão.

Boas dobrinhas

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O último Shakespeare (por Jardel Dias Cavalcanti)

"Somos feitos da matéria dos sonhos." (Shakespeare)

Existem duas obras de Jackson Pollock, uma denominada Sea Change e a outra Full Fathom Five (canção entoada por Ariel em A Tempestade, de Shakespeare - a expressão "sea change" também aparece na canção), que sugerem um ambicioso clamor pelos poderes do mago, como os de Próspero, sobre um mundo em fluxo entrópico contínuo. Estas obras tragam e dominam o observador, preenchendo o seu campo visual com energia materializada e levando-o a ter a sensação de que está "na arena" da pintura, assim como o artista esteve no momento de sua feitura.

Estas pinturas, criadas no auge dos poderes do artista, apresentam uma energia magnificamente controlada. Porém, podemos descobrir evidências esmagadoras de acidente e deslocamento, uma mal contida representação de uma potencialidade caótica, de impulsos anárquicos para uma dissolução e uma desordem que se espalham implicitamente no espaço infinito além da borda da tela. Em qualquer direção, estamos contemplando não tanto uma representação de coisas na natureza, quanto uma representação do fenômeno da própria natureza. A disposição da tinta pela superfície foi determinada por suas energias, tornando-se ela própria uma imagem do paradoxo inelutável da natureza - sua proliferação irreprimível de formas e ritmos diferenciados e sua resistível tendência à entropia.

Pollock estava no fim da vida (ele buscava este fim) e suas obras desse período são belos e fascinantes exercícios que expressam sua preocupação com o sublime, com a verdade básica da vida, que é seu sentido de tragédia.

Também Shakespeare, no fim da vida, produz uma obra de sentido semelhante: trata-se de A Tempestade, agora editada no Brasil pela editora L&PM, em formato de bolso, traduzida por Beatriz Viégas-Faria.

Não é mera coincidência que Pollock, num momento extremamente fecundo, procure este diálogo com Shakespeare. Estão ambos mergulhados no mesmo universo de formas poderosas que não são apenas o tema destas obras, mas experiências geniais de artistas em busca do sublime em seu imperativo criativo. Nos dois artistas parece que estamos ouvindo as palavras de Próspero, no quinto ato, cena I, de A Tempestade: "Minha alquimia agora atinge seu ponto crítico. Não falham os meus experimentos, obedecem-me meus espíritos, e o Tempo traz em sua carruagem o minuto exato."

A peça de Shakespeare se abre com ruídos estrondosos de uma tempestade, acompanhada de trovões e relâmpagos. Esta tempestade é produzida e controlada por Próspero, como nos informa a personagem Miranda, filha de Próspero: "Se através de sua Arte, meu querido e amado pai, o senhor colocou as águas selvagens nesse rugir, abrande-as."

O objetivo desta tempestade é naufragar um navio e levar sua população à ilha onde habitam Próspero e sua filha. Para tanto, Próspero mobiliza as terríveis forças da natureza e alcança seu objetivo.

Próspero foi parar na ilha por causa de uma conspiração envolvendo seu irmão Antônio e Alonso, rei de Nápoles, que além de tomarem seu poder o lançaram ao mar com a filha Miranda. Na ilha, Próspero encontra o selvagem Caliban e o gênio aéreo Ariel. Os dois se submetem ao poder de Próspero e lhe servem na empreitada de vingança contra a tripulação do navio naufragado, composta pelos traidores que tomaram seu poder em Milão.

Caliban e Ariel podem simbolizar uma tensão entre as forças do ar e da terra, os desejos do corpo e os desejos da alma, o intelecto e os apetites sensuais. Próspero ama Ariel e despreza Caliban. Sabemos que Próspero perdeu seu reino no momento em que se dedicava ao aprimoramento de sua alma e intelecto exilando-se na sua biblioteca: "sabedor que era de meu amor aos livros, suprimiu-me com volumes de minha própria biblioteca, os quais eu prezava mais que meu próprio Ducado". Seu projeto pessoal é de elevação, de controle das forças naturais e, conseqüentemente, do desenvolvimento de sua capacidade de perdoar os maiores crimes (e não existe maior crime para um ser do que aquele que é cometido contra si próprio).

A peça trata, sem dúvida, da renúncia ao poder temporal em troca de um poder de outra ordem: o poder da criação. Shakespeare, mágico mais poderoso que seu Próspero, nos transporta a uma região de magia, onde somos arrebatados por um sonho delicioso; tudo ali nos envolve e encanta; no fim, desejamos que esse sonho não acabe, pois desejamos sonhar ainda mais.

Ao manipular diversos elementos da natureza, em busca de uma redenção do seu passado, Próspero acaba por encontrar o sentido máximo de sua existência, que pode ser traduzido em uma de suas frases: "não vamos sobrecarregar nossas lembranças com um peso que já não existe mais."

Ao "perdoar" seu passado (esse peso, que pode se transformar em história, matéria que segundo Nietzsche só nos faz pensar para trás) redime a si mesmo. A descrição dessa passagem na peça deve ser citada: "eclipsei o sol do meio-dia, convoquei os ventos amotinados e, entre os verdes mares e a abóbada azul-celeste, armei estrondosa guerra. Emprestei fogo ao trovão mais pavoroso e retumbante, e com seu raio parti ao meio o robusto e altivo carvalho de Júpiter. Sacudi nas bases o promonitório mais sólido, e arranquei, raiz e tudo, os pinheiros e cedros. Ao meu comando, sepulturas iam despertando os que nelas dormiam, abriam-se e, por minha poderosa Arte, deixavam-nos sair. Mas eu aqui e agora renuncio a essa mágica escabrosa; e quando tiver requisitado uma música celestial (o que faço neste instante) para ultimar o meu propósito sobre os sentidos desses homens, que para isso servem os sons encantatórios, quebro minha vara mágica, enterro-a em grande profundidade no solo (...)".Em A Tempestade, é o perdão dos humanos que propicia a clemência dos elementos.

Existe uma legião de pseudo-especialistas que vêem na peça de Shakespeare um tratado sobre o colonialismo. Caliban, por exemplo, seria o índio colonizado pelo conquistador europeu. Segundo Harold Booom, "os críticos de orientação marxista, multicultural, feminista e neo-historicista conhecem bem as próprias causas, mas não as peças de Shakespeare". Sejamos conclusivos: a mitologia de Shakespeare em A Tempestade é sobretudo poética, não tendo nada a ver com símbolos políticos ocultos. Para os frequentadores das obras de arte existe uma idéia comum, fruto da experiência da frequentação: a idéia de que o fim da poesia é o de nos colocar em estado poético.

Na verdade, a peça tem mais relação com as preocupações metafísicas do autor do que com questões de ordem sociológicas. Na própria peça de Shakespeare encontramos uma resposta a estes sociólogos de plantão: "Não consigo parar de me sentir maravilhado por aquelas formas, aqueles gestos e aqueles sons, expressando... embora carentes do uso de palavras... uma espécie de magnífico discurso mudo".

Podemos pensar na obra de Pollock e Shakespeare, nesse momento, como uma alegoria da vingança do artista contra sua irremediável condição de humano, trazendo para dentro de sua própria obra o trauma da consciência dessa condição. O que aprendemos com a peça é que o mundo inteiro não é mais que um espetáculo, podemos dizer filosoficamente, uma representação. Nós somos feitos da mesma matéria que nossos sonhos e nossa vida terminará como ela começou, por um sono. A filosofia de Próspero confirma aquela de Hamlet, de que a vida não é mais que uma ilusão. O homem não é, portanto, mais que o sonho de uma sombra. E mais, eu não disse ainda, mas o digo agora, A Tempestade é uma tragi-comédia, no seu sentido radical, isto é, fazer rir do absurdo que é a aventura humana.

A filosofia do autor é clara: o real é feito da mesma matéria que a imagem, a vida não é mais verdadeira que a arte. Mas alguma coisa existe, uma verdade moral, a clemência de Próspero que é a indulgência de Shakespeare, que ama o bem e perdoa o mal.

Para ir além...

terça-feira, 14 de julho de 2009

Para começar bem o dia!



O German Star 3D é símbolo de alegria e esperança; criado por crianças na época da 2a. Guerra Mundial, tornou-se tradição na Alemanha.

Boas dobrinhas!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Seja Bem Vindo!

Site em construção...